Heron Coelho: Fábio Jorge ‐ a canção de todas as canções de amor
Foz da voz que vem de dentro das caves parisienses ‐ e por que não da tabernas de
glórias que o Brasil inda possui em seu grande matulão de artes ‐, Fábio Jorge surge no cenário
de nossa música popular com sua verve única, explorando amplitudes pouco reverenciadas em
nosso cancioneiro; e refiro‐me, aqui, à forte presença que a música francesa teve, nos anos 60‐
70, em nossa cultura, e que em seu primeiro trabalho solo surge re‐significado em
interpretações primorosas. Com seu jeito modesto, por vezes silente, a timidez de Fábio se
esvai quando o cantor abre o peito sob os holofotes, ao som de um bom acordeon e de um
afinado piano ‐ nunca mais afinado que a voz de Fábio ‐, a entoar peças francesas que por
muitos anos guardamos em nossa memória‐embornal, subitamente exaltadas em emoção à
flor da pele (na dele, e nas nossas).
Tive a felicidade de dirigir seu primeiro show com este repertório ‐ Sob o Céu de Paris ‐
agora em disco pelas mãos afetuosas do talentoso Thiago Marques Luiz. E ambos tiveram o
cuidado de deixar claras as confluências da ponte França‐Brasil, em canções de Caetano Veloso
e Chico Buarque (Dans Mons Île e Joana Francesa), envolvidas tematica e conceitualmente
com clássicos de Jacques Brel, Yves Montand, entre tantos outros cujas grafias falham‐me
nessa escritura‐declaração, concomitante ao coração entusiasmado de quem, um dia, disse ao
cantor: “Fábio Jorge…Fábio Jorge, que lindo… seu nome deve ser Fábio Jorge”.
Fábio é um aeroplano que vai longe, trilhando caminhos em céus sempre abertos,
eternamente junto aos passaredos, recolhendo da alma brasileira tudo aquilo que ela ainda
tem a dizer, seja em qual idioma for, astronauta das canções, meu amigo e irmão.
Heron Coelho
(Diretor teatral e produtor musical)